A diversidade torna a Terra mais redonda

Patrícia Barnabé
Especialista de Comunicação do Projeto be@t no BCSD Portugal

A geração dos anos 80, 90, 2000 viveu uma jovem abundância pós-revolução do 25 de abril. E num país remediado e pobre, nem se falava das consequências do consumismo para o planeta, vivia-se uma certa euforia e o mundo só entrava pelas nossas casas através dos media. Crescer na Lisboa rural daquele tempo ensinou-nos a empatia, a solidariedade, a vizinhança, hoje elogiadas pelos visitantes, que depois se mudam para cá. Nem tínhamos a noção do quanto éramos felizes.

Sou uma criança desse tempo e cresci com um sentido de ativismo invulgar que cedo me fez abraçar causas, como abandonar a carne, por exemplo, quando só os líricos e os malucos o faziam. A maioria está distraída. Escolhi o jornalismo, pois este sempre trabalhou para um mundo melhor. Mesmo nas áreas da moda, artes e lifestyle, o chantilly da vida, e talvez por essa mesma razão, é um gatilho importante de consciência, mudança, empoderamento. De diversidade, equidade e inclusão. Só se muda o sistema compreendendo bem as suas fragilidades e virtudes e trazendo-as ao debate.

Numa sociedade cada vez mais individualista e vaidosa, características que a moda conhece de cor, mudá-la por dentro é uma revolução silenciosa e urgente. Por isso, quando entrei para o BCSD Portugal, no fim de 2022, para a equipa que trabalha a sustentabilidade na indústria têxtil e da moda – no projeto be@t textiles, apoiado pelo PRR – senti que me tornava ainda mais consequente. Até porque, no caminho da democratização, a moda foi deixando um rasto de consumo massivo e irracional que atropelou as pessoas e o planeta. Chamarem-me, com quase 50 anos e nenhuma experiência empresarial, foi um invulgar salto de fé, ainda mais num mundo fascinado pela juventude. E contra todas as expectativas que me dizem os anos e a vida: não se prefere uma mulher experiente na equipa se se pode ter um rapaz inexperiente. Mesmo que as equipas diversas sejam as vencedoras, a maioria não sabe, é distraída.

A sustentabilidade torna a Terra mais redonda e polida. E se isso é gritante ecologicamente, o equilíbrio e proteção da biodiversidade num planeta partilhado, a nível social é uma grande evidência num mundo interconectado. Que é, por isso mesmo, mais diverso, estimulante, interessante. Não aproveitar as cintilações coloridas, tantas quantas as pessoas diferentes que somos, não é apenas tonto e destrutivo, é perder ingloriamente um valor essencial: quando vários pontos de vista se juntam na construção de um futuro comum, este é mais coeso e resiliente.

Sabemos que as mulheres continuam a receber menos e a trabalhar mais, quando são metade da humanidade. A desigualdade de género é das mais antigas, e continua um desafio perante resistências e regressões várias pelo mundo fora. Por outro lado, e segundo o estudo DEI do World Economic Forum, sabemos que 80% dos jovens LGBTQIA+ experienciam assédio no trabalho, já para não falar nas minorias étnicas, que têm dificuldade em aceder-lhe, das pessoas que sofrem de doenças crónicas, de deficiência física ou mental. E, lá está, 90% dos maiores de 40 anos já sofreram discriminação no trabalho – dá para entender o idadismo quando a experiência e a sabedoria só chega com os anos? O retrocesso é assustador.

Se as empresas são agentes ativos de progresso, devem arregaçar as mangas. Os estudos indicam, para não referir o bom senso, que a diversidade é um motor de inovação, de competitividade e crescimento económico, não se duvide que as equipas diversas são mais propensas a explorar novos mercados, veem e chegam mais longe. Segundo a McKenzie, os ambientes inclusivos aumentam o envolvimento dos seus colaboradores, têm mais perspetivas para tomarem decisões mais criativas e gerarem debates mais ricos, antecipando tendências e soluções. São melhor para todos.

Continue a ler

Carregar mais artigos