A importância da biodiversidade e do capital natural

No dia 23 de novembro de 2022 teve lugar o 1º dia das Jornadas da Sustentabilidade do BCSD Portugal, dedicado ao Capital Natural, no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Este evento foi patrocinado pela iniciativa act4nature Portugal e pretendeu evidenciar a crescente importância do tema da biodiversidade e do capital natural a nível mundial e, em particular, para as empresas.

O evento contou com a participação da Claire Tutenuit, Délégué Général, Entreprises pour l’Environnement, como Keynote Speaker, seguido do painel de debate “Atuar pela natureza”, moderado por Francisco Moreira, investigador do CIBIO, Instituto Superior de Agronomia e com a participação de Sara Goulartt, Direção de Sustentabilidade da EDP e Mafalda Evangelista, Director of Natural Capital & Strategy da NBI.

Houve também lugar para um showcase de casos de estudo do setor empresarial, nomeadamente, da Bondalti, Lipor, SGS Portugal, The Navigator Company, VINCI Energies Portugal e Symington.

Estas foram as principais conclusões desta manhã:

  • Uma empresa que queira caminhar no sentido de mitigar os impactos da atividade na natureza, ou até ter um impacto positivo, deve começar por mapear onde é que a empresa se relaciona com a natureza, perceber onde estão os seus valores e estabelecer prioridades de atuação ao nível da cadeia de valor (dar prioridade à atuação na parte da cadeia de valor com maior impacto). Este passo é fulcral, já que é dentro da esfera de influência que se encontra o potencial de atuação. De seguida, devem ser definidas ações concretas que tenham impacto no terreno, por cada problema assinalado. As ações delineadas devem estar alinhadas com a hierarquia de mitigação, isto é, começar por medidas de mitigação e avançar para a regeneração. Em sequência, é necessário definir indicadores de impacto e, para cada indicador, definir diferentes métricas associadas.
  • As empresas, na sua maioria, têm dificuldade em definir e medir a relação da sua atividade com a natureza – em alguns casos, por não existir uma relação direta com a biodiversidade – neste sentido, o estabelecimento de parcerias com entidades locais (municípios), ONGs ou outras entidades com conhecimento de terreno e/ou técnico de como o capital natural pode ser protegido e restaurado é uma prática recomendável para potenciar o impacto das empresas que tencionem desenvolver projetos na temática, independentemente do estágio de maturidade no tema.
  • A utilização de indicadores de biodiversidade e a respetiva recolha de dados é um desafio, uma vez que não existe ainda um standard, unidade ou métricas únicas (como existe no clima, por exemplo, relativamente às emissões de CO2eq). Além disso, em relação à recolha de dados, os dados disponíveis são muitas vezes insuficientes e estão dispersos por diferentes stakeholders, não havendo uma consolidação/agregação dos dados.
  • Nos últimos 2 anos, houve uma grande proliferação de referenciais – os principais são a Task force on Nature-related Financial Disclosures (TNFD) e as Science-Based Targets for Nature (SBTN).
  • A monitorização é uma grande dificuldade da biodiversidade, pelo que é preciso encontrar formas de a automatizar. São escassas as empresas que têm recursos para ir para o campo medir, estimar quantidades de espécies ou grupos de espécies ou avaliar em detalhe o estado ou a condição de um habitat. Assim, é necessário trabalhar no sentido de encontrar metodologias que permitam fazer este mapeamento e monitorização de forma mais automatizada.
  • Em termos de métricas, algumas empresas já avaliam métricas que têm um impacto na natureza, desde logo, métricas associadas à perda de natureza, às ações climáticas, à poluição, às espécies invasoras, ao estado da natureza em termos de ecossistemas e em termos de espécies e os próprios serviços de ecossistemas (no sentido de perceber como é que a empresa interage com os serviços de ecossistemas).

Foram, ainda, divulgados os destaques de 3 anos de operação da iniciativa act4nature Portugal, que leva as empresas a assumirem compromissos concretos para a reversão da perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas. Esta iniciativa conta já com a participação de 42 empresas signatárias, o que resulta num total de 355 compromissos assumidos, monitorizados bienalmente.

Adicionalmente, este evento contou, também, com um speed dating entre os participantes do evento e organizações de capital natural e biodiversidade selecionadas. As organizações presentes foram: VERDE – Associação para a Conservação Integrada da Natureza, Urbem Forests, Rewilding Portugal, ANP|WWF, SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e 2adapt.

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