A indústria da moda tem sido consistentemente identificada como uma das mais poluentes do mundo: valores de 2018 mostram que fazer um par de calças de ganga produz tantos gases com efeito de estufa como conduzir um carro a mais de 120 quilómetros por hora, que são necessários 2700 litros de água para fazer uma blusa de algodão (a mesmo quantidade média consumida por uma pessoa durante 2 anos e meio) e que as roupas descartadas feitas de tecidos não-orgânicos podem permanecer em aterros até 200 anos.
Depois de um relatório divulgado pela Global Fashion Agenda mostrar que lidar com os impactos ambientais e sociais da indústria proporcionaria um benefício total de 170 mil milhões de euros para a economia global até 2030, os stakeholders estão prontos para investir na sustentabilidade.
Aliás, na recente COP 24, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que decorreu em dezembro de 2018, foi lançado o Fashion Industry Charter for Climate Action, no âmbito do qual as empresas da indústria têxtil, de vestuário e da moda assumem um compromisso de neutralidade carbónica em 2050. O compromisso foi assumido por 43 empresas líderes neste setor, como a Adidas, a Burberry, a Guess, a Gap Inc., a Hugo Boss e a Inditex, assim como a empresa global de logística Maersk e a ONG WWF, entre outras.
Veja aqui o testemunho em vídeo do BCSD Portugal depois do painel sobre Moda na COP 24 >
Em Portugal, a indústria têxtil tem sido pioneira na inovação para a sustentabilidade na produção de fibras:
A Filasa – Fiação Armando da Silva Antunes S. A., empresa de fiação do Grupo Lasa, assumiu, em toda a produção, o uso da nova fibra Ecovero, da austríaca Lenzing, com selo Ecolabel. Esta viscose é obtida da madeira de plantações florestais sustentáveis certificadas pela FSC e a PEFC, e consome menos 50% de água e emite menos 50% de gases do que a produção da viscose genérica. A Filasa foi também a primeira empresa portuguesa de fiação a utilizar algodão sustentável com o selo Better Cotton Initiative (BCI).
Em 2018, a Inovafil contou com cinco produtos selecionados no Ispo Textrends, na categoria Eco Era, dois dos quais no Top 10, feitos a partir de matérias-primas como kapok, poliéster reciclado e algodão orgânico, em misturas com caxemira, lã e Tencel, produzido a partir de madeira. É também conhecida por fiar urtigas e cânhamo, cuja produção é mais amiga do ambiente, com os fios resultantes a poderem ser aplicados em vestuário, nomeadamente para desporto, com propriedades dermatológicas antialérgicas.
A Penteadora – Sociedade Industrial de Penteação e Fiação de Lãs criou a linha Re.born a partir de desperdícios têxteis das três empresas do grupo Paulo de Oliveira, a que pertence. Este tecido cardado é feito com, pelo menos, 50% de resíduos de lã gerados na produção do grupo.
A Riopele lançou no ano passado a marca Tenowa que produz tecidos funcionais inovadores a partir de matérias-primas recicladas e incorporando ingredientes extraídos de resíduos agroalimentares para lhes conceder funcionalidades como a neutralização de odores ou capacidades anti-nódoas. A empresa já assumiu, publicamente e diversas vezes, um compromisso sério com a diminuição do consumo de água no processo produtivo.
Em 2018 a Somelos lançou a linha Demi, um tecido sustentável e biodegradável que combina algodão com fibra de viscose extraída do caule da rosa. Com um toque e brilho semelhante aos da seda, e ainda a inclusão de microcápsulas aromáticas, este produto foi pensado para criar produtos luxuosos.
A TINTEX produz malhas que utilizam pelo menos 60% de materiais sustentáveis, incluindo celulósicas regeneradas, algodão orgânico com certificação BCI, algodão Ecotec® e cortiça. A primeira grande aposta da empresa foi o lyocell, uma fibra celulósica proveniente da madeira, que em 2002 conferiu à empresa o estatuto de pioneira na comercialização e acabamento de malhas daquele tipo de fibra na Europa.