Maria Sousa Martins
Knowledge Manager no BCSD Portugal
Gosto de pensar em sustentabilidade como a “capacidade de criar e manter um sistema societal justo e equilibrado, que promove o progresso e a prosperidade da sociedade humana e do planeta”. Para mim, o termo “sistema” é um conceito-chave nesta definição. De forma simples, refere-se a um conjunto de elementos interdependentes que concorrem para um mesmo resultado. É fácil, então, compreender que nós, seres humanos, somos elementos interdependentes que colaboram para o funcionamento de um mesmo sistema. Imagine, por exemplo, uma floresta: cada planta, cada animal, cada micro-organismo desempenha um papel fundamental no equilíbrio desse ecossistema; da mesma forma, a sociedade humana é um sistema complexo onde cada indivíduo, cada ação e cada decisão influenciam o todo.
Não será, por isso, surpresa que a mudança de paradigma necessária no sistema em que vivemos dependa de cada um de nós, individual e conjuntamente. E que o caminho rumo a um futuro mais sustentável seja, antes de tudo, um caminho interior.
Apesar de termos acumulado um vasto conhecimento sobre os desafios globais, como a crise climática e as desigualdades sociais, as soluções técnicas e políticas isoladas têm-se mostrado insuficientes para promover uma mudança sistémica. Falta-nos uma peça fundamental no puzzle: o desenvolvimento das competências individuais e coletivas para construir um futuro mais sustentável. A transformação social e ambiental que procuramos exige uma mudança profunda na nossa forma de pensar, sentir e agir.
Se por um lado estamos familiarizados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (os ODS) definidos pela ONU, é menos provável conhecermos com os Inner Development Goals (IDG), ou os Objetivos de Desenvolvimento Interior. Os IDG convidam-nos a uma reflexão interna e ao cultivar de um conjunto de competências que nos permitem agir de forma mais consciente e eficaz.
Os IDG reconhecem que os problemas globais são complexos e interconectados, e que as soluções tradicionais, muitas vezes focadas em mudanças externas, podem não ser suficientes. Organizados em 5 domínios – Ser, Pensar, Relacionar, Colaborar e Agir –, os IDG traduzem um conjunto de competências internas fundamentais para alcançarmos um sistema mais sustentável. Ao promover o desenvolvimento interior, os IDG visam empoderar os indivíduos, fortalecer a cultura de pertença e comunidade, e inspirar à ação.
Sem uma mudança fundacional nos atuais valores humanos e nas capacidades de liderança, as soluções externas para os nossos desafios globais podem ser limitadas, demasiado lentas ou de curta duração. Os IDG convidam-nos a refletir, pensar dentro de nós mesmos, e reconhecer que a transformação do mundo começa por uma transformação individual.
Não entrando no detalhe de todas, destaco 5 competências (ou valores) que considero prioritárias: consciência, empatia, compaixão, responsabilidade e resiliência. Ao compreendermo-nos (a nós, aos outros e ao mundo), e ao conectarmo-nos com as emoções e experiências alheias, cuidamos melhor de todos e assumimos um maior sentimento de dever pelo bem comum. Conseguimos, assim, fortalecer a nossa determinação para enfrentar os desafios e adversidades, catalisando a mudança exterior. De forma muito resumida, este parece-me ser um importante caminho a construir com vista a um futuro mais justo e harmonioso para todos.
A crise ambiental e social que enfrentamos é resultado de ações humanas, mas acredito que está também nas nossas mãos a capacidade de construir um futuro mais justo e equilibrado. Por isso convido-o/a, em tom de fecho de ano, a fazer uma reflexão interna sobre o que pode mudar e melhorar em si e na sua relação com os outros que contribua para acelerar a transição para um futuro mais sustentável. Pense nisso. ❤️
Como se pode ler em innerdevelopmentgoals.org, “We have to strengthen our human capabilities to ensure a sustainable future.”