Laurence Facon
Diretora de Transformação Estratégica, Sustentabilidade e Qualidade da Cofidis Portugal
O Natal, época de generosidade e celebração, é também um momento para refletirmos sobre as desigualdades que persistem na sociedade. Enquanto muitos celebram com abundância, uma parte significativa da população em Portugal e no mundo enfrenta desafios estruturais que comprometem o acesso a condições de vida dignas.
Em Portugal, cerca de 16,4% da população vive em risco de pobreza ou exclusão social, com as crianças a serem um dos grupos mais afetados. No contexto global, a pobreza extrema atinge mais de 356 milhões de crianças, que carecem de acesso a direitos fundamentais como educação e saúde. Estas realidades não só violam os Direitos Humanos, como perpetuam ciclos de desigualdade que se tornam difíceis de quebrar sem intervenções estruturais.
Entre estas intervenções, a educação financeira emerge como uma ferramenta poderosa para capacitar indivíduos e promover um mundo mais justo.
Educação Financeira: Um Direito Humano e Um Pilar de Igualdade
A educação financeira é mais do que uma competência prática; é um direito humano implícito, indispensável para que os indivíduos possam tomar decisões informadas e controlar o seu futuro. Num mundo onde o acesso desigual ao conhecimento financeiro contribui para alargar as disparidades económicas, garantir esta formação a todos é fundamental para promover a igualdade social.
Este défice não afeta apenas a capacidade dos cidadãos de gerirem as suas finanças pessoais; impacta também o crescimento económico e a resiliência das comunidades em períodos de crise. A ausência de uma literacia financeira sólida faz com que muitas pessoas recorram a opções financeiras insustentáveis, perpetuando ciclos de endividamento e exclusão.
Educação Financeira e os Direitos Humanos
A conexão entre educação financeira e os Direitos Humanos é evidente quando observamos como a falta de conhecimentos básicos afeta populações vulneráveis. A má gestão financeira pode levar à perda de habitação, à privação de bens essenciais e ao agravamento das condições de vida. Promover a literacia financeira é, assim, uma forma de promover que os Direitos Humanos básicos — como alimentação, habitação e acesso a cuidados de saúde — sejam respeitados e assegurados.
Além disso, esta formação oferece às pessoas a capacidade de exigir transparência e justiça no mercado financeiro, fortalecendo a democracia económica. Ao educar as populações, empoderamo-las para evitar práticas abusivas, negociar melhores condições de crédito e tomar decisões conscientes sobre o consumo, o que beneficia toda a sociedade.
O Impacto Sistémico da Literacia Financeira
Os benefícios da educação financeira transcendem o indivíduo. Comunidades mais bem informadas tendem a ser mais resilientes e colaborativas. Este impacto é amplificado em contextos de crise económica, onde o conhecimento financeiro pode mitigar os efeitos negativos a longo prazo.
Num mundo globalizado, onde a interconexão económica é uma constante, uma abordagem sistemática à literacia financeira é essencial. A promoção de programas educativos com enfoque em gestão financeira, tanto a nível local como global, deve ser uma prioridade para governos, organizações e empresas.
Reflexão e Compromisso
O Natal é uma oportunidade para pensarmos no futuro e agirmos de forma concreta. Garantir a todos o acesso à educação financeira não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma alavanca para a sustentabilidade social.
Se queremos um mundo mais inclusivo e equitativo, devemos encarar a educação financeira como um direito universal. Afinal, é ao empoderar as pessoas com conhecimento que criamos as condições para que possam construir as suas próprias soluções e contribuir para comunidades mais equilibradas e solidárias.
Que este Natal inspire a reflexão, mas também a ação. Pois o verdadeiro espírito desta época está em partilhar, capacitar e incluir.
Fontes Consultadas
- 1. OCDE: “Survey of Adult Financial Literacy” (2020).
- 2. INE Portugal: Dados sobre pobreza e exclusão social em Portugal.
- 3. UNICEF: Relatório sobre pobreza extrema em crianças.