
Nathalie Ballan
Partner na Sair da Casca x S317

Ana Gonçalves
Partner na Sair da Casca x S317
Nos últimos anos, neutralidade carbónica, ou Net Zero, tornaram-se expressões comuns na comunicação das empresas. Estes termos, utilizados para transmitir um compromisso ambiental, podem, contudo, induzir os consumidores em erro.
Neutralidade carbónica vs Net Zero, é tudo o mesmo?
Estes termos têm sido usados muitas vezes como sinónimos em diferentes contextos, no entanto, são conceitos distintos!
O conceito de neutralidade carbónica surgiu em 2002 com o primeiro sistema certificação de “carbono neutro”. Atualmente, uma das normas mais reconhecidas é a da BSI (Bristish Standard Institute), a PAS 2060. Esta norma exige, por exemplo, a medição da pegada carbónica completa, um plano de gestão de emissões, reduções efetivas e a compensação das restantes emissões, mas sem impor valores mínimos à redução apresentada.
Net Zero é um conceito mais recente, mais ambicioso e visto como o objetivo final das empresas. Ficou particularmente consolidado quando a Science Based Targets initiative (SBTi) criou critérios específicos para a definição de um objetivo Net Zero. Estes critérios assentam na necessidade de redução das emissões totais em pelo menos 90%, sendo que apenas as emissões residuais podem ser compensadas com créditos de remoção permanente (SBTi, 2023).
O que diz a Diretiva Europeia sobre este tipo de alegações?
A Diretiva Europeia sobre “Green Claims”, por sua vez, impõe regras rigorosas sobre alegações de sustentabilidade. Exige que qualquer afirmação de neutralidade carbónica seja fundamentada em provas científicas verificáveis, cobrindo todo o ciclo de vida do produto ou serviço. Alegações vagas como “neutro para o clima” ou “zero emissões” sem um plano concreto de redução de emissões são proibidas, pois podem induzir os consumidores em erro (Comissão Europeia, 2023).
Como comunicar com credibilidade?
Para evitar greenwashing, as empresas devem seguir algumas boas práticas:
- Focar primeiro na redução, não na compensação – Dar prioridade à descarbonização.
- Ser transparente – Explicar detalhadamente como as emissões são calculadas, geridas e compensadas.
- Considerar todas as emissões de carbono – Considerar as emissões, não só da produção, mas também de toda a cadeia de valor.
- Utilizar expressões alinhadas com recomendações das normas – Garantir que os statements utilizados estão em linha com requisitos específicos de normas ou diretivas existentes.
- Certificar – quer seja de neutralidade carbónica ou objetivos Net Zero, esta validação externa traz grande credibilidade às comunicações efetuadas pelas empresas.
A pressão regulatória e o escrutínio público estão a aumentar. Empresas que continuem a comunicar metas de neutralidade carbónica sem base científica sólida arriscam não só danos reputacionais, mas também consequências legais.
Mais do que procurar slogans atrativos, as marcas devem focar-se no essencial: reduzir emissões e comunicar com rigor e transparência.
Referências
- ADEME. (2023). Guide anti-greenwashing. Agência Francesa da Transição Ecológica.
- Science Based Targets Initiative. (2023). Net-zero standard.
- Comissão Europeia. (2023). Green Claims Directive Proposal.
- BSI, Norma PAS 2060.