No dia 24 de novembro de 2022, teve lugar o 2º dia das Jornadas da Sustentabilidade do BCSD Portugal, dedicado às Finanças Sustentáveis, na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. O evento, patrocinado pela Bolschare Agriculture, reuniu diversos intervenientes dos setores financeiro e não financeiro, com foco nos desafios e oportunidades que os mecanismos regulatórios e de mercado trazem para as empresas.
O evento contou com um painel moderado por Ana Cláudia Coelho, Partner na PwC Portugal, com a participação de Cristina Casalinho, Diretora de Sustentabilidade do Banco BPI, e João Nuno Palma, Vice-presidente do Millennium bcp.
Houve um showcase decasos de estudo, que contou com casos práticos sobre a utilização de instrumentos financeiros sustentáveis em setores como o da agricultura e floresta, energia e retalho, além da própria banca por parte da Bolschare Agriculture, Corticeira Amorim, Crédito Agrícola, EDP e Sonae.
Estas foram as principais conclusões desta manhã:
- As novas regulamentações europeias – como o Pacto Ecológico Europeu e políticas do Banco Central Europeu – estão a conduzir à reorientação dos fluxos financeiros para atividades sustentáveis, com especial ênfase na gestão de riscos, sejam estes de transição ou fixos. Relativamente aos riscos climáticos, Portugal foi identificado como um dos países da Europa com mais riscos físicos, o que poderá ter grande impacto na economia. A componente de gestão de riscos é, portanto, crítica para as empresas no financiamento das suas atividades.
- O setor financeiro deve ter uma abordagem convergente, no sentido de incluir empresas que ainda não se enquadram na Taxonomia Europeia, mas que têm planos de transição para a sustentabilidade, o que é fundamental para sustentar a economia global (salvo as atividades não financiadas). Futuramente, as instituições financeiras terão dificuldades em conceder crédito a indústrias que não apresentem planos de transição para a sustentabilidade – como, por exemplo, as indústrias intensas em carbono.
- A transição para a sustentabilidade tem custos associados e as empresas devem preparar-se para os cobrir. O planeamento de uma transição controlada trará benefícios futuros, enquanto uma transição não controlada pode trazer perdas de revenue na ordem dos 40%.
- Relativamente ao estado da arte do financiamento sustentável, foram destacadas duas perspetivas: enquanto a concessão de créditos verdes ainda não apresenta spreads vantajosos, comparativamente com os instrumentos de crédito tradicionais, o mercado obrigacionista já possui spreads mais atrativos para a emissão de obrigações sustentáveis.
- A disponibilidade e fiabilidade de dados ESG é um dos desafios que as instituições financeiras enfrentam. A transparência é chave na gestão de riscos, sejam estes ambientais, como a gestão de riscos climáticos, sociais, com a avaliação do cumprimento dos direitos humanos, ou de governança. Neste sentido, o combate ao greenwashing deve ser feito tanto na avaliação das empresas interessadas em obter crédito, quanto na própria instituição financeira. Para além disso, as instituições financeiras devem incorporar a sustentabilidade nas agendas das suas próprias organizações.
- A existência de soluções de crédito ESG, como os sustainability-linked loans, onde o valor da taxa de juro está associado ao desempenho de indicadores de sustentabilidade específicos, demonstram a importância da recolha, tratamento e reporte de dados ESG.
- A capacitação das empresas, principalmente as PMEs, é um desafio a ser endereçado para que a monitorização e reporte dos indicadores de sustentabilidade possa ser realizado de forma adequada.
Foi também lançado o Guia de apoio ao apuramento de materialidade nas empresas, um trabalho desenvolvido pela Task Force de Materialidade, constituída no âmbito do Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis do BCSD Portugal, que contou com a participação das empresas Algebra Capital, Altri, Banco BPI, Corticeira Amorim, Euronext, EDP, KPMG, ManpowerGroup, Millennium bcp, PwC, Sair da Casca, Sonae e Stravillia. Com foco no conceito de dupla materialidade, especialmente relevante face aos avanços regulatórios na União Europeia, nomeadamente através da adoção da Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), o guia vem antecipar as novas tendências e desafios de reporte que as empresas terão de se adaptar. A maquetação do guia contou com o apoio da EDP.
Assista ao vídeo aqui: