
Inês Henriques
Especialista de Conhecimento e Formação no BCSD Portugal
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Um estudo realizado pela Fundação Calouste Gulbenkian sobre “Perceções sobre os desafios ambientais em Portugal”, diz-nos que os jovens entre os 18 e 24 anos, inquiridos a propósito do estudo, demonstram menor envolvimento com a sustentabilidade e que 19% dos jovens desta amostra se enquadram no perfil dos “desinteressados”, não revelando qualquer interesse ou envolvimento com a causa ambiental. São a faixa etária com mais peso nesta categoria.
Admira-se com estes factos? Afinal, nas mãos de quem é que vai estar o mundo daqui a uns anos? Não deveriam as gerações mais novas estar mais sensibilizadas e envolvidas, terem um mindset aberto e sentirem o planeta Terra verdadeiramente como casa, preocupando-se e cuidando dele como tal? Se a informação é vasta e corre pelo mundo inteiro, se as evidências são claras e a ciência nos tenta abrir os olhos, o que é que está a falhar?
No outro dia, ouvia, em contexto político e num canal de televisão nacional, um senhor de 70 anos a dizer a um jovem de 29, numa troca de opiniões: “Você é muito novo”. Nesse sentido pergunto, queremos ou não queremos ouvir os jovens? Têm ou não têm valor as suas opiniões? Se queremos que estejam ativos, que participem, que demonstrem interesse e que façam parte, porque é que insistimos em desvalorizá-los?
A sabedoria que provém do tempo é, de facto, única e valiosa, mas a sabedoria daqueles que não vivem com as marcas causadas pelo tempo, também o é. Uma visão desprovida de crenças, padrões, uma visão livre e descondicionada é a visão de um jovem, uma visão de que o mundo precisa. A troca de conhecimento é recíproca e ninguém fica a perder. Precisamos de nos ouvir mais, sem querer que ninguém se cale. E no que à sustentabilidade diz respeito, todos somos essenciais e ninguém pode ficar de fora. Como diz o estudo, é fundamental reforçar a educação ambiental e criar experiências práticas que envolvam esta faixa etária de forma significativa. Eu vou só um pouco mais longe: deem-lhes espaço e asas, que eles hão de voar!