Ser sustentável já não é opcional

José Pedro Neves
ESG & Sustainability Specialist na dstelecom

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Gostaria de começar este artigo, realçando que integrar a sustentabilidade na estratégia e operação das empresas não é, de facto, apenas uma questão de moda transitória ou de mero cumprimento legal. É, hoje, uma inevitabilidade para a subsistência e prosperidade no contexto empresarial. O ano de 2025 marca um ponto de viragem: além de um cenário de volatilidade económica, custos energéticos elevados, instabilidade geopolítica, taxas de juro altas, impõe-se também uma pressão regulatória inédita, com as novas normas europeias que obrigam muitas empresas a reportar, de forma detalhada, as suas práticas ambientais, sociais e de governança.

O interessante é que, para muitas organizações, sobretudo para as PME que representam quase todo o tecido económico nacional, a primeira reação é de apreensão: “Como cumprir, se falta tempo, conhecimento e recursos?” Mas é precisamente neste desafio que residem as maiores oportunidades. A transição para a sustentabilidade, que exige mudança cultural, inovação e investimento, é também o motor que está a gerar novos mercados, a abrir portas para linhas de financiamento específicas e, mais ainda, a revelar poupanças antes impensáveis, como comprovam os dados internacionais: mais de 50% das grandes empresas reportam retornos reais diretamente atribuíveis a práticas de gestão do carbono e eficiência energética.

As vantagens não se esgotam nas finanças. O consumidor mudou, está informado, exige compromisso ambiental e social e, em grande parte, está disposto a penalizar ou premiar empresas consoante o impacto positivo que geram. Tal mudança também se reproduz no mercado de talento: cerca de 70% da nova geração prefere empresas com planos sólidos de sustentabilidade e 64% não aceitam sequer uma proposta de quem ignore esse caminho, o que mostra uma clara escolha baseada em propósitos e valores.

É verdade que os desafios são complexos. Reporting exigente, adaptação de processos, custos de transição, alguma concorrência desleal fora da UE e a pressão constante para inovar. Contudo, ser sustentável já não é opcional. O contexto europeu dita regras claras: não se adaptar é perder acesso a mercados, apoios e reputação, um capital social de valor incalculável.

No fundo, integrar a sustentabilidade é uma decisão estratégica. É preparar a empresa para ser parte da solução coletiva e, em simultâneo, posicioná-la na linha da frente da inovação, do talento, da resiliência e da competitividade. Num mundo em acelerada transição, quem ficar à margem desta revolução arrisca, pura e simplesmente, a irrelevância. Pensar estrategicamente a sustentabilidade empresarial é assumir um compromisso multifacetado: reduz-se riscos e custos ao antecipar disrupções ambientais e legais, fortalece-se a confiança dos stakeholders (sejam investidores, clientes, fornecedores ou comunidades) por meio de maior transparência e responsabilidade, promove-se a inovação, abrindo caminho ao crescimento sustentável e à criação de novas oportunidades de negócio, incrementa-se a performance interna, graças a processos otimizados e equipas mais motivadas e, sobretudo, conquista-se uma posição de destaque perante os competidores. Trata-se de uma jornada que posiciona quem a percorre não apenas na vanguarda do setor, mas também como agente relevante de futuro. Um futuro onde sobreviverá apenas quem compreender verdadeiramente o valor integral da sustentabilidade.

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