Sustentabilidade: lost in translation

Daniela Lima,

Gestora de Conhecimento e Formação no BCSD Portugal

Se trabalha o tema da sustentabilidade, ainda que mais à frente argumente que todos o fazemos, talvez já tenha sentido o mesmo que eu tantas vezes senti. Esta sensação repetiu-se recentemente durante esta última época festiva, quando tentei explicar mais uma vez a amigos e familiares o que faço no BCSD Portugal, e o que é isto da “sustentabilidade”. Se já experienciou algo semelhante, pode ter enfrentado a mesma dificuldade em encontrar nessas pessoas diferentes perceções, ou uma que seja, sobre o tema.

De todas essas vezes, surpreendo-me: a sustentabilidade ainda é, para muitas pessoas, um termo muito abrangente e, por isso mesmo, vago e pouco compreendido. Por um lado, há quem a interprete através de uma perspetiva antiquada pensando tratar-se de ser “amigo do ambiente”, abraçar árvores, fazer boas ações, voluntariado e reciclagem. Por outro lado, existe quem acredite que não passa de uma moda “woke”, uma propaganda extremista, um emaranhado regulatório ou um desperdício financeiro. E há ainda quem não saiba de todo o que significa.

Então, o que é a sustentabilidade? E o que é que não é?

A verdade é que a sustentabilidade é do interesse de todos, sem exceção. Por isso é que dizer algo como “amigo do ambiente” ou mesmo “woke” (no sentido negativo) não faz sentido quando falamos do tema: é essencial perceber que nós, como parte de uma sociedade, de uma economia e do ambiente, dependemos completamente dela.

Para além disso, a sustentabilidade está constantemente à nossa volta, talvez mais do que se possa ter apercebido – está presente em todos os aspetos do nosso do dia-a-dia, e nos valores que partilhamos. Tudo é sustentabilidade. Meramente não lhe estamos a dar esse nome.

Estamos a falar de sustentabilidade quando falamos em…

… eficiência, responsabilidade, paz, justiça, transparência, empatia e respeito;
… saúde, segurança, direito à habitação, criação de emprego e condições de trabalho dignas;
… acesso a água potável e saneamento público, energia barata e fiável (não só renovável), bem como infraestruturas (como por exemplo a de transportes);
… continuidade de sistemas que suportam o nosso dia-a-dia e que põem os bens e serviços ao nosso dispor, como por exemplo, a indústria alimentar ou a tecnológica;
… prevenção da corrupção, otimização de recursos, rentabilidade económica, gestão de risco ou pensamento a longo prazo.

A sustentabilidade é a capacidade de atender às necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades (ou mesmo das nossas, dentro de alguns anos), e baseia-se em 3 pilares interdependentes: o ambiente, a sociedade e a economia. É difícil imaginar algo nas nossas vidas pessoais ou profissionais que não esteja ligado, direta ou indiretamente, a pelo menos uma destas dimensões, se não mesmo a todas.

Por isso, enquanto sociedade, se queremos atingir objetivos tão importantes e ambiciosos como os do Pacto Ecológico Europeu ou do Acordo de Paris, é urgente garantirmos uma base sólida sobre a qual colocamos esse esforço: precisamos de concordar sobre o que a sustentabilidade significa, e sobre quem beneficia.  Cabe-nos a todos traduzir este conceito para algo tangível e próximo das pessoas, que ressoe nas nossas ações diárias e inspire os outros a fazer o mesmo. Juntos, podemos transformar perceções, redefinir prioridades e construir um futuro verdadeiramente sustentável.

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