A transformação para além das palavras

Sérgio Machado
Diretor de Hidrogénio e Combustíveis Renováveis da Galp

Sempre que falamos em transformação no mundo empresarial, a primeira esfera em que esta se faz sentir é a das palavras. Olhamos para a linguagem corporativa e, de súbito, todas as empresas querem liderar a mudança, serem disruptores do status quo, construtores do futuro.

As palavras são mais fáceis de mudar do que a realidade – com as quais, por vezes, chegam mesmo a perder o contacto. Na Galp, enquanto empresa de base industrial, é com as mãos na massa, a trabalhar a realidade, que procuramos construir a história.

É assim – e com investimentos que, no ciclo de transformação iniciado em 2020 totalizam 1,3 mil milhões de euros – que a Refinaria de Sines, com quase 50 anos, é hoje uma das grandes referências Europeias quando falamos da transição energética industrial.

Aqui erguem-se já no terreno enormes estruturas de betão, reatores e colunas de aço maciço com dezenas de metros de altura que dão corpo a uma unidade de produção de biocombustíveis avançados, associada a uma das maiores unidades de produção de hidrogénio verde de toda a Europa, igualmente em fase avançada de construção.

Quando entrar em operação, já no próximo ano, este investimento global de 650 milhões de euros evitará a emissão para a atmosfera de mais de 900 mil toneladas de CO2 por ano, ou seja, o equivalente a retirar 700 mil automóveis da estrada.

Este é um passo importante na descarbonização da maior unidade industrial portuguesa, e na redução das emissões de gases com efeitos de estufa, tanto da própria Galp, como do país. Mas os combustíveis para aviação (SAF) e transporte rodoviário pesado (HVO) aqui produzidos, permitirão que grandes clientes que, de outra forma não conseguiriam reduzir a sua pegada carbónica, o possam fazer.

Até 2040, prevê-se que o mix energético nos transportes mude drasticamente: os combustíveis fósseis, que hoje representam 90% da energia do setor, devem cair para 50%. Neste contexto, a capacidade de produzir combustíveis de baixo carbono, como o SAF e o HVO, torna-se crucial.

As principais beneficiárias diretas desta nova oferta são as transportadoras aéreas e rodoviárias, mas também as famílias que não dispõem de condições para abdicarem de uma viatura alimentada a combustão interna, uma vez que estes combustíveis de origem renovável serão igualmente incorporados no gasóleo e gasolina tradicionais.

A disponibilidade de hidrogénio verde produzido em condições competitivas dificilmente replicáveis no resto da Europa, constitui um argumento importante para que Portugal possa aspirar a uma reconfiguração do seu aparelho industrial.

Esta é a escala da transformação em curso, que é essencial para o futuro da Galp, mas também para o futuro do País e para a recuperação de um propósito para a Europa. Ao investir em Sines, a Galp mostra que a transição energética não é apenas uma narrativa, mas uma realidade em construção.

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