
Rui Lameiras
Coordenador da Agenda ATE – Aliança para a Transição Energética
A sustentabilidade e a economia circular deixaram de ser tendências para se consolidarem como imperativos estratégicos dos modelos de negócio modernos. Empresas que adotam práticas circulares não só minimizam o impacto ambiental, mas também geram valor, posicionando-se para enfrentar os desafios de um mercado global em constante transformação. Em Portugal, no entanto, a implementação de estratégias circulares está longe de ser uma realidade, exigindo uma reestruturação profunda de processos produtivos e do consumo.
Embora o movimento global em torno da circularidade tenha crescido, Portugal ocupa a 24.ª posição no ranking de utilização circular de materiais, com uma taxa de 2,8%, muito aquém das metas da União Europeia. A situação geopolítica e o aumento dos preços das matérias-primas tornam ainda mais urgente a transição para uma economia circular e o setor energético tem um papel crucial nesta transição, sendo um dos maiores consumidores de recursos naturais e geradores de resíduos. As empresas deste setor devem adotar soluções que prolonguem o ciclo de vida dos ativos, reduzam a obsolescência dos ativos e promovam a reutilização de matérias-primas.
Neste contexto, a Agenda ATE (Aliança para a Transição Energética) tem promovido essa transformação. O foco está na eficiência no uso de materiais e energia, com ênfase na criação de soluções para prolongar o ciclo de vida de produtos e equipamentos. A incorporação de materiais reutilizáveis, reciclados e renováveis também é promovida assim como a rastreabilidade dos recursos materiais, que se tem configurado como uma prioridade, com a disseminação de conceitos como o Passaporte Digital de Produto, uma ferramenta que permite acompanhar o ciclo de vida dos produtos e o seu alinhamento com os princípios da circularidade.
A ATE também propõe quantificar a circularidade através de indicadores específicos de produto, processo e organização, o que permitirá identificar o valor real da circularidade ao longo da cadeia de valor. Essa abordagem segue o modelo “cradle-to-cradle“, que visa um ciclo de vida fechado e sustentável, sem desperdício. Ao implementar esse processo, as empresas do setor energético poderão reduzir os impactos ambientais e gerar valor económico. Além disso, a capacitação das empresas é fundamental para o sucesso da circularidade. A transição para modelos circulares exige uma mudança cultural nas organizações, com novas formas de pensar e agir em relação aos recursos e ao meio ambiente. Programas de upskilling e reskilling são essenciais para integrar essas práticas de forma eficiente nas operações diárias. A Agenda ATE foca-se em promover essa capacitação, criando um ambiente propício para a adoção de práticas circulares.
Em resumo, adotar práticas circulares é essencial para alinhar processos de negócios, tecnologias e pessoas com os princípios da sustentabilidade, impulsionando inovação e eficiência a longo prazo. A Agenda ATE desempenha um papel chave ao promover uma visão integrada da transição energética e digital, com ênfase na circularidade. A transformação para um futuro mais equilibrado e sustentável depende de ações imediatas e do papel das empresas na criação de valor económico e ambiental. Com a implementação das soluções adequadas, Portugal pode não só alcançar as metas europeias, mas também tornar-se um exemplo de liderança em economia circular.
