Alterações climáticas: oportunidade para uma ação transformadora, para proteger e criar valor para a sociedade

No momento em que decorre a COP27, onde são discutidas as questões relacionadas com as alterações climáticas e com a extensão e profundidade da transição necessária, fica mais evidente do que nunca que os líderes mundiais, as empresas e a sociedade em geral vão ter de se unir e acelerar a ação de resposta às alterações climáticas.

Neste contexto, a iniciativa privada tem um papel muito importante, num mundo com múltiplas crises em várias frentes, os impactos crescentes das alterações climáticas, com inundações, ondas de calor e períodos de seca cada vez mais intensos, frequentes e prolongados, refletem-se no contexto em que as empresas e as suas cadeias de valor atuam, traduzindo-se em maiores custos com imprevistos e maiores riscos a enfrentar no futuro. Só nos últimos dez anos, os custos de eventos climáticos na União europeia, ascenderam os 145 mil milhões de euros em perdas. O foco da ação climática empresarial deve envolver uma descarbonização rápida e profunda, por um lado, e a adaptação aos riscos climáticos, por outro, não só das suas operações como dos fornecedores e clientes ao longo da sua cadeia de valor. Nos dias de hoje, a questão que as empresas se colocam não é “se”, mas “como” e “quando” transitar o meu modelo de negócio para uma economia de baixo carbono e resiliente? 

A prioridade nesta agenda de transformação permite às empresas evitarem impactes climáticos mais severos, criarem valor nas suas cadeias de fornecimento e vendas, produzirem riqueza com menor intensidade em carbono, mas também permite o envio de um sinal claro e poderoso tanto para os consumidores como para os governos que os padrões e as expectativas da sociedade estão a mudar.

Sem uma ação climática robusta, os custos da inação continuarão a crescer

A ciência não deixa margem para dúvida, o último relatório (o 6º) do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), indica que para evitar os impactos climáticos mais severos e irreversíveis é importante limitar o aquecimento global a 1,5ºC, que implica reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em 43% até 2030 em relação a 2019, e que as emissões de CO2 devem reduzidas ao mínimo e ser anuladas por remoções na mesma proporção, ou seja, atingir a neutralidade carbónica no máximo até 2050 (Net-Zero).

De acordo com os resultados do último índice de Economia Net-Zero 2022 da PwC, que mede o progresso na descarbonização da economia por parte dos membros do G20, o mundo precisa reduzir a intensidade de carbono da atividade económica em 15,2% a cada ano para limitar o aquecimento global a 1,5º C – isto é, 11 vezes mais rápido do que a média global alcançada nas últimas duas décadas.

Em resumo, a ação climática é urgente! Identificamos em seguida quatro prioridades que as empresas devem considerar:

  1. Descarbonização das suas próprias operações e em particular da sua cadeia de fornecimento (na maioria das empresas esta tem um peso muito relevante no impacto total), já que o seu grau de influência é significativo, definindo um plano de ação e metas climáticas ambiciosas (ex. reconhecimento SBTi);
  2. Avaliar o risco climático e aumentar a resiliência, e mais uma vez, entender a vulnerabilidade das cadeias de fornecimento a perigos climáticos e riscos de transição, no curto e longo prazo para diferentes cenários climáticos, para poder desenhar soluções de adaptação e gestão desses mesmos riscos;
  3. Mobilizar capital para soluções que permitem a transição para uma economia net-zero, através de mercados de capitais focados num esforço coordenado para permitir que o setor privado acelere a transição orientada por princípios de sustentabilidade;
  4. Relatórios de sustentabilidade ou integrados, baseados em indicadores robustos, métricas adequadas, e dados verificados, corretos e rastreáveis, com metodologias de cálculo apropriadas e de elevada qualidade. Para isso é essencial uma comunicação transparente e o alinhamento com as normas que uniformizam e tornam comparáveis as empresas dos vários setores (ex. GHG Protocol, TCFD, CDP).

É imperativo reconhecer a urgência do desafio e agir. Não há uma solução única para transformar todos os sistemas – desde a forma como se cultivam os alimentos, como se efetua o transporte de mercadorias, como as cidades são construídas…

A transição exige capacidade de atuação transversal em toda a economia, envolvendo os vários stakeholders e as empresas, dos vários setores e dimensões – ninguém pode ficar à parte, todos serão envolvidos!

Artigo por Ana Cláudia Coelho, Sustainability and Climate Change Partner e Ana Luísa Martins, Sustainability and Climate Change Manager PwC

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