As empresas e o imperativo da sustentabilidade

O tempo simbólico convoca à reflexão e à ação. Na semana em que se celebra o Dia Mundial do Ambiente, vale a pena olharmos para o papel concreto que as empresas podem desempenhar na transformação da economia em benefício da Humanidade e do planeta.

A ambição das empresas – desejável e legítima – de construírem valor de longo prazo para os seus acionistas e demais stakeholders será tão mais concretizável quanto mais solidamente alicerçada estiver nos pilares da sustentabilidade. As empresas ou abraçam os princípios da sustentabilidade na sua atividade e gerem melhor o risco, a sua cadeia de valor e valorizam as pessoas, seu maior ativo, ou tornam-se obsoletas e desaparecem.

O BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, associação sem fins lucrativos a que tenho a honra de presidir desde março do ano passado, contribuiu de forma determinante nas últimas duas décadas para que um número significativo de empresas, de todas as dimensões e setores de atividade, pudesse iniciar a sua jornada rumo à sustentabilidade.  Temos cumprido o nosso Propósito de transformar a economia em benefício das Pessoas e do Planeta.

Neste período de tempo, a dimensão ambiental constituiu-se como um eixo prioritário de atuação, reforçada a partir de 2016 com a instituição dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, “uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta e um plano para o sucesso” como o então Secretário-Geral da ONU os definiu.

Desde aí, ganharam protagonismo e velocidade os temas da descarbonização, da circularidade, da defesa e promoção da biodiversidade, a que o BCSD Portugal desde a sua fundação deu bastante atenção, mas também temas mais concretos de índole social, como a Igualdade de Género, Trabalho Digno e Crescimento Económico e Redução das Desigualdades (Objetivos, 5, 8 e 10, respetivamente). Com esta abertura de novos horizontes para a agenda da sustentabilidade empresarial, gerou-se maior potencial para a criação de modelos económicos mais saudáveis. É por isso que é tão importante promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, a diversidade e a boa governação. Porque as empresas são um instrumento efetivo para o combate à desigualdade e para a valorização das pessoas, que são valores e recursos intrínsecos ao próprio conceito de sustentabilidade.

A sustentabilidade nas suas várias valências é incremental como vem sendo crescentemente provado por diversos estudos. Empresas que priorizam a diversidade e a inclusão, incluindo nas lideranças, são, regra geral, mais bem dirigidas e obtêm melhores resultados financeiros, de performance e de desempenho económico.

De acordo com dados do Fórum Económico Mundial, de 2022, o planeta irá demorar, a este ritmo, 132 anos, a atingir a paridade de género. Portugal, neste índice global de 146 países, ocupa a 29.ª posição ponderando-se a média de todos os indicadores considerados. Podia ser pior… mas não é suficiente: há dimensões onde urge fazer mais e melhor, como no acesso e oportunidades económicas (41.ª posição atrás da França e à frente da Bulgária) ou na da realização educativa (75.ª posição atrás do Chipre e à frente da Macedónia do Norte). Fechar este hiato deve ser uma prioridade.

A promoção da diversidade – de género, étnica, religiosa, de idade, entre outras – capaz de aproveitar os méritos e competências que existem na pluralidade de origens e de circunstâncias, enriquece as organizações, torna-as mais resilientes e mais aptas para os desafios do crescimento sustentável. A promoção da equidade, assente em boa-governação, capaz de assegurar processos justos, transparentes e imparciais é determinante para a saúde e prosperidade das organizações. Assim como a inclusão e a integração desempenham um papel estruturante nesta agenda, fazendo com que todos os que integram uma empresa se sintam acolhidos, valorizados e tratados de igual maneira, independentemente da sua origem ou circunstância.

Há um propósito claro na defesa e promoção desta agenda que, a par da preocupação com o Ambiente, valoriza as Pessoas. Para um país como Portugal, neste domínio, destaca-se a prioridade para a diversidade, a equidade e a inclusão: reter e atrair talento, promover a valorização salarial, cimentar o sentimento de pertença e de compromisso, essenciais para que as pessoas deem o melhor de si e sejam, por isso, também, mais felizes.

Abraçar o ciclo virtuoso da sustentabilidade é, por conseguinte, um imperativo das empresas. Economias saudáveis são as que abraçam a sustentabilidade em todas as suas vertentes, não só como objetivo, mas também como propósito.

António Pires de Lima, CEO da Brisa e Presidente do BCSD Portugal

Publicado na edição do Expresso do passado dia 9 de junho.

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