O exercício de antecipar o futuro é sempre ingrato. Se, por um lado, há tendências que se vão consolidando – dando lugar a fenómenos relativamente previsíveis –, por outro, há inúmeros fenómenos imprevisíveis, que baralham as contas. Há três anos, ninguém antecipava o pandemia COVID-19; há um ano ninguém antecipava a atual guerra na Ucrânia, nem crise económica, isto é, o aumento da inflação e das taxas de juro que se seguiram.
A nível mundial e europeu, há três tendências que se irão consolidar durante este ano: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 das Nações Unidas, o Acordo de Paris sobre o clima e o Pacto Ecológico Europeu. No que diz respeito aos ODS, uma vez que acabamos de chegar a meio do período de implementação (2015-2030), este ano será feito um balanço geral do seu grau de concretização. Paralelamente, alguns objetivos serão objeto de revisões específicas – por exemplo, na COP28 sobre o clima, que terá lugar em dezembro, será feito um balanço relativamente à meta da descarbonização.
Como estamos muito longe de atingir a generalidade das metas dos 17 ODS, em muitos deles espera-se uma pressão este ano no sentido da aceleração. Por exemplo, a nível global, é necessário reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 45%, até 2030, porém este ano não se espera uma diminuição, mas sim um aumento. Por isso, os incentivos e exigências regulamentares serão cada vez maiores. Na UE, as empresas estarão cada vez mais sujeitas a taxas de carbono, à exigência de reporte de informação não financeira e ao dever de diligência a montante e a jusante das suas cadeias de valor. A boa notícia é que também terão cada vez mais acesso a fundos públicos para apoiar inovação e investigação em vários domínios ESG ou da sustentabilidade.
A par destas tendências sistémicas, será cada vez mais consensual a dificuldade de atingirmos metas coletivas ou político-administrativas, sem que cada um faça o que está ao seu alcance, o que irá acelerar mudanças ao nível dos estilos de vida (sobretudo nos países desenvolvidos) e a proliferação de metodologias de reforço da empatia e do bem-estar individual. Se não sentirmos empatia por nós próprios, pelos outros e pelo planeta, dificilmente nos mobilizaremos para os desafios da sustentabilidade. Ou seja, os Inner Development Goals serão cada vez mais vistos como uma dimensão crítica para atingirmos os Sustainable Development Goals das Nações Unidas.
Bom ano!
Artigo por João Wengorovius Meneses, Secretário-Geral do BCSD Portugal
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