Como é próprio de qualquer mudança de paradigma, a transição para um modelo de desenvolvimento assente na sustentabilidade ambiental e social é complexa. Exige abordagens holísticas, que envolvem inúmeros atores e variáveis e, para acontecer, depende de mudanças profundas e radicais. Por isso é crítico que o processo seja amplamente participado, adote rituais simbólicos agregadores e celebre as vitórias.
Neste contexto, a atual parafernália de debates sobre temas ESG (i.e., ambientais, sociais e de governance) desempenha um papel importante, bem como a proliferação de acordos, planos, pactos, cartas, coligações e manifestos. Em conjunto, todas essas iniciativas constituem reflexões coletivas importantes e rituais agregadores de motivação para a mudança. Ou todas as partes interessadas compreendem a necessidade da mudança, se motivam para ela e participam na construção e implementação das soluções, ou jamais acontecerá – pelo menos com a qualidade, a escala e o ritmo necessários.
O Pacto Ecológico Europeu (PEE) foi apresentado, no final de 2019, como o principal referencial de apoio à política da UE até 2030, como o nosso momento “Homem na lua”. Porém, tarda em produzir os resultados a que se propunha. Assente em 10 pilares, o PEE tem-se desdobrado em estratégias, planos e iniciativas – da transição energética, ao restauro da natureza, da Política Agrícola Comum, às competências verdes –, mas à medida que se aproximam as respetivas fases de implementação, as resistências aumentam e o ritmo e o entusiasmo diminuem.
Mas não é apenas o PEE que se encontra em risco por falta de vitalidade na ação, o mesmo sucede com o Acordo de Paris sobre o clima e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Para cumprirmos o Acordo de Paris, teremos de ser capazes de reduzir as emissões mundiais de gases com efeito de estufa em 50%, até 2030. Porém, a estimativa atual é de um aumento de 14%. Já o progresso relativamente aos 17 ODS está neste momento a ser avaliado pela ONU – a meio do seu caminho (2015-2030) –, mas tudo aponta para que as notícias também não sejam animadoras.
Em suma, chegou o momento de levarmos a sério os diversos acordos, planos, pactos, cartas, coligações e manifestos que irão salvar o mundo, passando à ação, concretizando a sua ambição. Se todos esses procedimentos e rituais de passagem não se traduzirem nas ações concretas necessárias, a nossa vida futura – e, sobretudo, a das gerações futuras – será muito pior. Ou seja, se não saírem do papel, continuaremos em modo realidade virtual, em fuga para a frente, de pacto em pacto, até à derrota final.
É neste contexto – cada vez mais exigente – que a nossa Conferência Anual deste ano se propõe envolver as empresas numa reflexão – concreta e aplicada – sobre os desafios e caminhos para 2030. E, já agora, quem poderia ser melhor entrevistado do que o Ministro do Ambiente e da Ação Climática para nos ajudar nessa reflexão?
João Wengorovius Meneses, Secretário-Geral do BCSD Portugal