Lourenço Zuzarte Saraiva
Energy & Utilities practice Director, NTT DATA Portugal
Matilde Cordeiro Aguiar
Energy & Utilities practice Engagement Manager, NTT DATA Portugal
À medida que o mundo acelera a transição para fontes de energia renováveis e otimiza a eficiência energética, a inteligência artificial (IA) surge como uma ferramenta fundamental para enfrentar inúmeros desafios. O seu efeito altera profundamente a forma como gerimos a energia, dotando sistemas com capacidade de previsão rigorosa quanto à procura; ajusta a produção; e permite a integração de energias renováveis de forma harmoniosa na rede. Não falamos de um futuro distante. Falamos de uma realidade que a IA já está a criar, hoje.
O impacto da IA no setor energético é extenso e multidisciplinar. Passa pela melhoria da gestão das redes elétricas, através da integração otimizada e coordenação de elementos modernos como veículos elétricos, baterias e sistemas de autoconsumo; pelo suporte e manutenção de infraestruturas, da identificação de padrões de consumo de energia e da recomendação de ajustes personalizados aos consumidores.
Uma das principais contribuições da IA para este setor traduz-se na sua capacidade de previsão, no que se refere à procura e à otimização da geração de energia. O seu impacto reflete-se na potencial melhoria da eficiência de fontes de energia renováveis; no planeamento dinâmico de manutenção de ativos; na otimização do uso de materiais e peças; e na gestão da crescente complexidade das redes, devido à proliferação de fontes de energia renováveis, dispositivos inteligentes, veículos elétricos, geração distribuída, baterias e sistemas de autoconsumo.
Para superar alguns dos desafios atuais do setor, a IA pode analisar vastos conjuntos de dados em tempo real para prever a procura, gerir a oferta e garantir a estabilidade. Os algoritmos de IA, que podem prever padrões de consumo de energia, permitindo um equilíbrio de carga mais eficiente e reduzindo o risco de apagões. Para além disso, a IA pode otimizar os ciclos de carregamento e descarregamento de veículos elétricos e os sistemas de armazenamento de baterias, assegurando que a energia está disponível quando necessário e a custos reduzidos. Esta valência é essencial num contexto altamente volátil, onde a capacidade de tomar decisões rápidas e informadas pode fazer toda a diferença.
A IA desempenha também um papel crucial na promoção da sustentabilidade, podendo otimizar o consumo de energia e a gestão de redes, enquanto reduz o desperdício e diminui as emissões de carbono. Ao integrar fontes de energia renováveis e assegurar uma gestão de rede mais eficiente, a IA ajuda a criar um cenário energético mais limpo e ecológico. Estima-se que a IA tem o potencial de reduzir as emissões globais de gases com efeito estufa (GEE) em 5-10% – uma quantidade equivalente às emissões anuais de toda a União Europeia.
Contudo, o processo de geração de modelos de IA e o funcionamento de centros de dados requerem quantidades significativas de energia e de água. Embora o consumo direto de água associado a imagens geradas por IA seja relativamente pequeno quando comparado com outros setores, destaca-se a necessidade mais ampla de práticas sustentáveis no desenvolvimento e implementação de IA, que pode levar a um consumo energético substancial em data centers.
Apesar dos benefícios, a dualidade da natureza energética intensiva da IA representa um desafio significativo. O rápido crescimento das tecnologias de IA levou a um aumento sem precedentes na procura de eletricidade. No entanto, ao integrar a IA no setor energético, podemos criar um ciclo virtuoso e autossustentável, em que a própria IA otimiza a produção de energia em função das necessidades energéticas.
À medida que navegamos pelas complexidades da integração da IA no setor, é necessário reconhecer tanto as oportunidades como os desafios que esta integração apresenta. Ao abraçar esta sinergia e abordar a pegada ambiental da IA, podemos acelerar a transição para um sistema energético mais limpo e eficiente, que apoie tanto o avanço tecnológico quanto a gestão ambiental.