“Não deixar ninguém para trás” é a promessa inscrita pelas Nações Unidas na Agenda 2030 e subscrita por 193 países, em 2015. Mas, enquanto sociedade, caminhamos ainda de forma preocupante, por vezes titubeante, sob o persistente conceito de “business as usual” e o comodismo dos estereótipos contrapostos a uma realidade que reclama coragem e determinação para evoluir equitativamente.
A igualdade de género, a valorização e capacitação de mulheres e raparigas representam mais do que objetivos que, à escala global, encerram metas e desígnios inscritos em compromissos de Estados e organizações. Representam a paridade de direitos e oportunidades, mas também de responsabilidades e eliminação de barreiras que se manifestam em diferentes esferas – económicas, socioculturais e políticas, além de individuais, profissionais e familiares. Promovem o negócio, o crescimento económico sustentável, a paz e justiça social, a formação de talento e competências diversificadas, o exercício de lideranças partilhadas, sob o repto de uma evolução exigida, nomeadamente, pelas gerações mais jovens. O investimento estratégico e efetivo nas mulheres como trabalhadoras, empresárias, clientes e parceiras comunitárias é vantajoso para todas as partes interessadas, sociedade e a economia em geral, mas para as empresas, em particular, que beneficiam do aumento da eficiência e eficácia organizacional, da paz social e rendibilidade. As perceções, interesses, necessidades e prioridades de mulheres e homens são catalisadoras dos processos de desenvolvimento que suportam o crescimento económico sustentável, o progresso social e a sustentabilidade ambiental.
O relatório mais recente do Fórum Económico Mundial, Global Gender Report 2021, estima 135 anos para que o mundo concretize a igualdade geral entre mulheres e homens, e 267 para que também a desigualdade económica deixe de fazer parte de uma narrativa dormente. Embora a realidade europeia e portuguesa sejam mais promissoras quando ao desígnio em causa, estes dados reforçaram uma evidência que persiste e contraria a evolução exigida sob o espectro do absoluto respeito pelos direitos humanos universais e da elementar justiça social, contabilizados que estão 35 anos do “Nosso Futuro Comum”, 30 anos do Princípio 20 da Declaração do Rio, 27 anos da Declaração de Pequim e sete desde a definição dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Discriminar a “maior minoria” transporta similar comportamento de rejeição para outras franjas socialmente estereotipadas. Excluir com base no sexo, enquanto característica biológica, acentua a potencial exclusão de outros géneros, características genéticas e antropológicas, bem como orientações de vida, que compõem a diversidade sobre a qual assenta a riqueza e a evolução da Humanidade.
As empresas têm um papel determinante nesta jornada. São coletividades de pessoas, adjacentes e intervenientes noutras comunidades. Têm a capacidade, as condições e a legitimação para catalisar o progresso junto de cada individuo, de contribuir para o equilíbrio das diferentes esferas da sua vida, de alinharem os seus valores e propósitos com as gerações mais jovens.
Contribuir para uma agenda igualitária, equitativa, inclusiva e assente na diversidade, depende da informação certa, do conhecimento e da capacidade de o integrar na organização. A eliminação das diferenças de género assenta na institucionalização dessas expectativas, por via de sistemas ou processos legislativos, educacionais, políticos e económicos. Temo-los em Portugal que, de acordo o Banco Mundial, é um dos 10 países do mundo com plenos e iguais direitos para as mulheres. Também em Portugal, estão representados os Women’s Empowerment Principles (WEPs), iniciativa conjunta do Global Compact e da United Nations Women, das Nações Unidas, que com os seus sete princípios orientadores exige uma representação, participação e liderança igualitárias nas organizações, acelerando as metas do ODS #5. Portugal tem 35 empresas signatárias dos WEPs que acedem à ferramenta “WEPs Tools” facilitadora do autodiagnóstico sobre o desempenho em igualdade de género.
A Humanidade está a contratar… carente de talento, diversidade, criatividade, intrepidez, empatia, ética, capacidade empreendedora, entre outras qualificações e atributos necessários para fazer valer a paz e a sobrevivência, digna e justa, das suas pessoas.
Sem medos, preconceitos ou estereótipos, conseguiremos superar a ameaça das diferenças de género? Teremos, enquanto indivíduos e comunidades, coragem e resiliência para concretizar esta missão e “não deixar ninguém para trás” até 2030?
Certamente que sim.
Artigo por Paula Feliciano Viegas, Convenor Women’s Empowerment Principles (WEPs) Portugal